
Já escrevi aqui que a visita mais importante para Dilma nesta viagem aos EUA seria ao Google, pois ela teria oportunidade de ver e aprender como funcionam as coisas no maior centro de inovação do planeta, o Vale do Silício. Agora tenho dúvidas. É difícil acreditar que um passeio de 20 minutos num carro sem motorista seja capaz de mudar as ideias cristalizadas que ela tem sobre economia e desenvolvimento.
Um empresário desses que negociaram muito com o governo petista, depois acabaram presos na Operação Lava Jato, me descreveu bem como funciona a cabeça de Dilma: “Ela acredita que é possível estabelecer por antecipação um patamar ‘justo’ de lucro para um negócio, depois fazer as contas para saber quanto uma obra tem de custar”. Para ela, dizia o empresário, o governo tem o poder de estabelecer preços. A vida real, todos sabemos, não é bem assim. Preços flutuam, ora negócios são extremamente lucrativos, ora entram no vermelho, e os empreendedores apostam seu capital na maior parte das vezes sem saber como o mercado reagirá na realidade.
Daí vem a importância da inovação. As novas tecnologias permitem, ainda que temporariamente, estabelecer negócios mais saudáveis do ponto de vista financeiro – até que os competidores as copiem, e os preços naturalmente caiam. Depois venha a próxima inovação, e a próxima, e a próxima... Quem se beneficia dessa corrida tecnológica são os consumidores e a sociedade, cujo padrão de vida melhora. Será que o Google investiria tanta energia para desenvolver um carro autônomo se o governo tivesse estabelecido uma licitação com “tabelamento da margem de lucro”, como sonham nossos burocratas desenvolvimentistas?
O naufrágio político do governo Dilma tem origem na sua visão equivocada da economia. O resto é consequência. Quando a regra do mercado é o governo decidir o melhor, nada mais natural que surgirem empresários tentando usar a influência e a corrupção para receber favores do governo, como expliquei aqui na minha série de posts sobre a Lava Jato. Quando a realidade do mercado se impõe, a verdade vem à tona: contas públicas em desequlíbrio, pedaladas fiscais, queda no preço das commodities de que dependem nossas exportações, e a descoberta tardia de que o país pouco – se algo – tem feito para se transformar numa economia movida a inovação. Os investidores se mostram arredios, começa a recessão, a inflação e o desemprego voltam com força. Não é de espantar que a popularidade de DIlma esteja tão baixa.
Em conversas de bastidores, aumentam as menções àquela palavra proibida, que começa com “i”. A vida política está complicadíssima para Dilma. A questão não se resume aos políticos do PT investigados na Operação Lava Jato. Seu principal desafio é outro. Suponha que o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeite suas contas do ano passado, após a análise das explicações que seu governo deverá entregar este mês. Não é um cenário improvável. A partir daí, Dilma passará a depender de sua articulação no Congresso para evitar um processo por crime de responsabilidade fiscal.
Olhe então para o Congresso. De toda a confusão de ontem em torno da manobra que aprovou em primeiro turno a lei que reduz a maioridade penal para crimes hediondos, destaca-se uma frase do presidente da Câmara, Eduardo Cunha: “Duvido que alguém tenha condições tecnicamente de contestar uma vírgula”. Ele tem razão. Cunha lidera a oposição velada contra o governo Dilma. Hábil politicamente, conhece como ninguém os trâmites parlamentares. Demonstrou ontem mais uma vez – quantas já foram só neste ano? – que não há moleza para Dilma no Congesso. O desfecho do embate ainda é incerto. Por ora, a sensação é que o Brasil está dentro de um carro sem motorista – e não tem o software que seria capaz de fazê-lo andar sozinho.
(Foto: Roberto
Stuckert Filho/PR)
http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/quem-esta-no-volante-do-brasil.html
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