O lema
“Brasil, Pátria Educadora”, do novo governo da Presidente Dilma Rousseff, evoca
uma dimensão afetiva. Enquanto nação é um conceito mais jurídico, pátria
implica um sentimento de pertencimento a uma terra – natural ou adotiva –, um
vínculo carregado de memórias e experiências, valores, histórias e culturas
compartilhadas. Mas só a educação pode colocar sentido nesse conceito. Caso
contrário, ele se converte em patriotismo vazio.
Quando a pátria, exaltada na letra do hino
nacional, pode ser de fato “amada”? Quando podemos desejar que nossos filhos
sejam criados nesta terra e não em outra? Certamente quando eles podem se
orgulhar do país e ter esperança no futuro, construir um projeto pessoal e
profissional ancorado num projeto de nação, quando conhecem e valorizam as
raízes de seu povo, em toda a sua plural beleza. Isso não se constrói com
medidas econômicas, mas com educação.
Só que fazer do Brasil uma pátria educadora requer
uma mudança de mentalidade. Não passa simplesmente, como afirmaram os três
últimos ministros da educação e também o atual ministro Cid Gomes, por mudar o
currículo do ensino médio. Nem requer apenas oferecer mais vagas em creches,
submeter os professores a avaliações periódicas ou ampliar o ensino em tempo
integral, como anunciou Cid Gomes em recenteentrevista.
Ser uma pátria educadora é algo que ultrapassa o
que se faz na escola. A educação começa em casa, nos exemplos dos pais, mas
transcende para a esfera pública. Implica experimentar, no cotidiano, relações
de civilidade, respeito, justiça. E atinge, claro, a dimensão política.
Acontece quando há engajamento dos cidadãos, ética nos governantes,
transparência no uso dos recursos públicos.
Sem dúvida que a escola, nessa pátria educadora, é
ambiente fundamental, onde se aprende a atribuir significados e sentidos à
história e à cultura. Nela se recebem as bases que podem formar o cidadão do
futuro, capaz de construir uma nação democrática, inclusiva e sustentável.
Sem educação de qualidade não há “pátria”, apenas
um território sem rosto do qual não se pode sentir orgulho verdadeiro: é o país
que, hoje, ocupa a lanterna nos exames internacionais de competências
educativas e contrata gente fora porque não tem trabalhador qualificado.
Por isso, a sociedade brasileira deveria ter total
atenção ao que está acontecendo na escola pública. Respeitar os mestres,
fiscalizar mais e cobrar melhorias em situações que são inaceitáveis. Essas
atitudes, porém, derivam de algo bem mais profundo, que ainda temos que
conquistar: o valor que se atribui à educação.
Sem educação de qualidade, o conceito de pátria se
torna meramente sentimental. Pode-se “morrer pela pátria”, sentir-se “a pátria
de chuteiras”, ter a “semana da pátria”, cultuando-a com bandeiras e símbolos
oficiais. Mas um povo não educado será sempre vítima de um civismo abstrato
que, se supostamente unifica o país, no fundo o fragiliza e o torna vulnerável
às mais diversas ideologias.
Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade. George Orwell
sexta-feira, 10 de julho de 2015
Sem educação de qualidade, o conceito de pátria é vazio
http://g1.globo.com/educacao/blog/andrea-ramal/5.html
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